Sunday, January 19, 2020

Autonomia e heteronomia em Educação por uma perspectiva crítica e atual


Essa foto registra a brincadeira que fiz com minha irmã quando o neném (1 ano) suplicava por colo da mãe (quase sempre): "os humilhados serão exaltados". Isso me faz pensar no quanto as crianças pequenas precisam de nós, o quanto elas clamam por atenção, por colo. Elas pedem desesperadamente amor e segurança. O corpo se lança em direção ao que atrai, se joga em direção à mãe, ao pai. Quando chora, chora profundo. Quando ri, ri espontaneamente. As crianças têm gestos puros que falam sobre a natureza humana. O corpo, os sentidos, os sentimentos são a realidade primeira do bebê. A mãe é o primeiro amor, depois o pai, então a criança toma consciência de si e depois ela vai se completando ao longo da vida com a coletividade, com a vida em sociedade, em suas relações.

Observar isso nos bebês me faz pensar que a discussão sobre autonomia e heteronomia em Educação precisa ser contextualizada na sociedade, pois muito facilmente esse discurso toma formas idealistas e não têm claro o significado das ações no mundo. A Educação só se contextualiza quando se propõe a criticar e transformar o mundo. As questões ambientais e humanas que enfrentamos nesta segunda década de século XXI são urgentes e exigem atitudes. Então é preciso que o discurso da autonomia não seja insensível, mas que seja consciente da heteronomia, ou seja, da atenção, da escuta e do apoio que é preciso dar às crianças, do quanto elas precisam de afeto, alegria e consciência crítica para mudar o mundo.

É preciso pensar a autonomia de um jeito revolucionário e repensar nossas ideias sobre infância. Colocar também nessa palavra o contexto histórico, político e ideológico atual. A perspectiva do lugar na sociedade que ocupam as mães e pais da maioria das crianças do mundo. Assim, perceber que é a lógica do capitalismo que impede que as crianças recebam amor e atenção de seus pais, de ter seus direitos garantidos e, assim, passem da heteronomia para a autonomia de forma dialética e contínua. É o capital, o neoliberalismo, as políticas de austeridade, é a distância para o trabalho, o ônibus lotado, o cansaço, o desemprego, a dívida, o capitalismo de cada dia que domestica os corpos, o tempo, a sexualidade, a sociabilidade, a produção, a reprodução e assim molda a vida das famílias e das crianças. Molda a divisão do mercado de trabalho.

Falar de autonomia e heteronomia em Educação de forma fragmentada e fragmentária não atende as necessidades da Educação para o nosso século. A Educação deve ser valorizada da Educação Infantil à Universidade, à pós-graduação. Assim como  a saúde e a previdência, pois são instrumentos sociais que devem ser estimulados e priorizados, pois são, na verdade, investimentos sociais, são garantias de direitos humanos e fundamentais. A Educação tem papel central no esforço necessário para mudar a lógica do modo de produção e reprodução.

Depois desse papo todo "os humilhados serão exaltados" adquire uma conotação revolucionária. As crianças nascem clamando por amor, elas se exaltam quando clamam e quando amam, é com essa mesma força do amor que elas vão ter a base para mudar o mundo. A força do amor que está em nós, na natureza, no universo. No entanto, mais do que nunca, este amor precisa ser revolucionário.



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