Saturday, February 04, 2012

Jardim ManiCômicos, o início de uma pesquisa da Universidade ou da Universalidade da Vida


Trilhando o caminho do desejo de semear novas ideias e experiências na educação fui a São João Del Rei, em Minas Gerais, em busca de fazer mestrado para estudar a permacultura enquanto parâmetro sóciopedagógico na educação, mais especificamente na arte-educação. Obtive sucesso nas duas primeiras etapas do processo seletivo (submissão do projeto e prova de conhecimentos específicos), porém não me saí bem na entrevista e, portanto, não passei no mestrado. Esse insucesso me deixou um tanto contrariada, contudo me incitou um desafio: a continuar realizando esse trabalho e fazendo-o como uma pesquisa, ou seja; planejando, realizando, tomando notas, elaborando relatos, filmando, fotografando e observando bem os desafios, as potencialidades e, sobretudo, aquilo que surgisse de novo nas experiências.

Eu já havia feito contato com uma escola municipal em São João Del Rei e na Cia de Teatro ManiCômicos, onde funciona uma escola de arte-educação. Em ambas as instituições a idéia foi bem recebida e na Cia ManiCômicos eles me contrataram para construir um jardim ecopedagógicos com as crianças em cinco encontros, pois já era meados de outubro e já se aproximava o fim do ano letivo. Fiz um planejamento e apresentei como proposta, tive que refazê-lo para diminuir o conteúdo, pois tínhamos pouco tempo para a realização das atividades, foi preciso desenvolver o trabalho da forma mais simples possível; para tanto a permacultura ficou apenas como fundamento teórico e metodológico, porém as artes visuais e as rodas de diálogo deram conta de transmitir o caráter ecológico e ético da experiência.

O grupo tinha a especificidade de ter crianças de diferentes faixas etárias (de 4 a 13 anos), no entanto, a turma já estava junta há algum tempo e isso gerava um clima de cuidado mútuo e cooperação entre as crianças. Outro fator de suma importância foi a presença das educadoras; a Márcia, a Ana Maria e a Lôra; a participação delas conferiu mais riqueza à experiência e garantiu a segurança das crianças durantes os mutirões ecopedagógicos, pois nessas atividades precisamos ter atenção redobrada uma vez que as crianças manuseiam ferramentas, entram em contato com alguns insetos e estão em ambiente amplo e aberto.

O Espaço Cultural da Cia ManiCômicos funciona em um galpão bonito e interessante, bem característico à cidade, assemelha-se à arquitetura colonial típica de São João Del Rei. Porém, não há um espaço aberto e nem área verde no local das atividades. Por isso fizemos o nosso jardim em uma área próxima, entre o rio e o calçadão que cortam a rua que dá acesso à Cia. ManiCômicos, era um espaço ocioso, onde crescia o mato misturado com o lixo que as pessoas jogavam ou que eram trazidos pelo vento. O interessante disso é que nossa ação teve o caráter de intervenção urbana; durante os mutirões algumas pessoas que passavam paravam para observar o nosso trabalho e se admiravam ao ver as crianças cuidando e transformando aquele espaço com arte e natureza. Um homem que passava pelo local disse assim: “olha que coisa, as crianças consertando os erros dos adultos”. Tivemos também a colaboração de algumas pessoas da comunidade que levaram sementes, mudas e ajudaram colocando a mão na terra.

Os mutirões ecopedagógicos se mostraram mais uma vez como um momento de rico aprendizado e de interação transdisciplinar, onde aprendemos todos com a natureza, em contato com o inesperado e misturando pintura, plantio, música, sabedorias populares (o conhecimento dos pais e avós), trabalho em grupo, proatividade, co-criação com a natureza, criação audiovisual e exercício do comunitarismo. As crianças documentaram todo o trabalho em seus diários de campo, em fotografia e vídeo, e como conclusão do trabalho editei as imagens em um pequeno documentário que pode ser conferido no link acima desse texto.

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