Saturday, July 09, 2011

São Paulo, a Multivisão, a Multi Ação, a Boa Nova






























Em São Paulo encontrei uma forte parte da teia da vida dos corações conectados; pessoas conscientes que estão trabalhando e praticando uma nova cultura; integrando o meio urbano aos ciclos da natureza, criando soluções simples para as simples questões do dia-a-dia urbano; transformando o “lixo” em recurso, e praticando uma cultura em que o conviver é de cooperação, saúde, alegria e amor. Estão direcionando a força e o ritmo frenético da cidade grande em ações de transformação cultural, difundindo as práticas da permacultura urbana, alimentação vegana, ativismo ambiental e um bocado de arte!

E lá vou eu na caminhada de semeador, não tenho terra, só há caminho, e por onde o caminho for eu preciso semear. É muito bom quando a vida abre espaço para um vôo, para um mergulho mais longínquo, para além de sonhos e belezas naturais, e nos leva à experiência de mudança e realização; estar presente e consciente no momento do agora, “transformar transformando” e “fazer fazendo”. Nessa caminhada combinei com a vida que farei e participarei de toda ação que envolva a permacultura na perspectiva da educação.

Nem sempre podemos pensar muito para buscar respostas. Nem sempre podemos aprender sobre algo novo apenas através da teoria; mais do que nunca precisamos buscar as respostas na prática. O ato de educar se faz vivo na ação da experiência educativa, o prisma da teoria necessita da complementaridade da prática e a caminhada de semeador e aprendiz me leva à prática da permacultura como a prática da vida, leva-me a difundir esse jeito de interação com a natureza nos espaços educacionais, criar “espaços de re-conexão” com o mundo natural, semear para aprender como podemos inserir os princípios desse saber nas escolas e em lugares educativos.

Pensar sobre as transformações nos espaços educacionais através da permacultura e da arte nos leva à busca da prática, e é nesse caminho que eu me sinto um ser semeador. O bom é que pelo caminho da vida eu não sou a única semeadora e nessa aventura de urbano-retirante nordestina à capital paulistana encontrei outros semeadores pelo caminho. A caminhada tornou-se coletiva, pois alguns semeadores decidiram se unir, além de caminho havia terra, havia sementes e muitos semeadores!

Fizemos uma intervenção de Permacultura e Arte na escola Boa Nova no bairro da Lapa, antes disso tivemos uma pequena reunião de planejamento para definir como iríamos fazer as atividades e como nós iríamos fazer para pegar quatro turmas (duas do 6º ano e duas do 7º ano) em um único dia, sendo nós um grupo de cinco pessoas. O assunto também foi tratado um dia antes no grupo de estudos de Permacultura na Ecohouse, três pessoas desse grupo também se voluntariaram para participar da vivência.

Levamos para a escola tintas, pincéis, esteiras, ferramentas para jardinagem, húmus de minhoca, alguns instrumentos musicais, na escola encontramos vários recursos: madeira, folhas secas, papelão, etc. A “ponte” para que cheguemos a essa escola foi a parceria da Jéssica (a responsável pelo projeto) e a Teresa, professora de artes da escola, que está abordando as questões ambientais e abre as suas aulas para novas vivências.

O encontro com os estudantes foi bastante simples, mas também muito rico; iniciamos com a roda, onde nos apresentamos, nos olhamos, falamos sobre os princípios da permacultura (dois dias antes da nossa vivência a Jéssica visitou todas as turmas e sugeriu que eles desenhassem sobre os princípios de cuidado com a terra, cuidado com as pessoas e partilha dos recursos), cantamos em reverência a terra e explicamos para os estudantes quais atividades tínhamos para o dia, dividimos o grupo em equipes: plantio, pintura, vídeo, coleta de materiais. Essa divisão dos grupos se deu mais por questões de organização, pois nós deixamos claro que as atividades eram rotativas, ou seja, quem estivesse na pintura também podia participar do plantio, do vídeo e da coleta de materiais; de forma que todos pudessem transitar livremente pelas atividades.

Foi uma tarde de muito agito e fluidez, a brincadeira se misturou com o aprender, as reflexões sobre as questões ambientais se manifestaram em arte nos muros, muitas descobertas e alegrias foram vivenciadas nesse processo de transformar o espaço, tudo isso envolvido na riqueza da cooperação; no trabalho comunitário livre e harmonioso. Foi muito bonito de ver a professora de artes, a diretora, a cozinheira, o professor de matemática e todos os estudantes integrados em momentos de pura espontaneidade e ação. Pintamos os muros com temáticas sobre a questão ambiental, construímos quatro canteiros permaculturais (com a técnica dos canteiros instantâneos) e plantamos várias mudas de hortaliças, ervas, flores e plantas ornamentais.

Cada um de nós arte-educadores-permacultores focalizamos uma atividade, a Mari ficou com a pintura, o Pedron ficou com o plantio, o Igor com a coleta de materiais, a Jéssica ficou no plantio e também como uma espécie de coordenadora geral, eu fiquei focalizando o grupo do vídeo (disponibilizamos uma câmera para que os estudantes documentassem a vivência), ajudando a Mari na pintura e também participando no plantio. Entre nós educadores as atividades também eram rotativas, desde que sempre houvesse um focalizador em cada atividade podíamos transitar livremente.

Essa forma de organização abriu espaço para a espontaneidade, nós partimos do princípio de que nós estávamos ali para interagir e aprender. Os adolescentes perguntavam: “quem são vocês?” e nós respondemos que “somos um grupo de amigos que estudamos e praticamos a permacultura e acreditamos na mudança cultural” e estávamos lá em busca de conhecer mais pessoas que contribuem com o meio ambiente e para aprender formas de inserir essas práticas no dia-a-dia das escolas.

Sem dúvidas, um trabalho de permacultura na escola exige atividades preparatórias, trabalhos que contextualizem e introduzam o tema, assim como as noções de planejamento e desing de assentamentos humanos sustentáveis, exige um trabalho atento e continuado. Porém, essa experiência de “intervenção” na escola, apesar da rapidez e da intensidade, se mostra como um método muito interessante, pois durante a vivência os estudantes descobrem muitas coisas por si mesmos, recordam os saberes de seus avós e familiares de plantio e cuidado com a terra, resgatam costumes “da roça” que são incomuns na vida urbana.

Esse tipo de vivência pode ser visto como o início de um trabalho de permacultura na escola, pois é muito coerente que a inserção da permacultura na escola se dê, em primeiro plano, de forma prática. Através desse primeiro contato, ainda que seja intenso e rápido, podemos sentir e perceber a disponibilidade e o interesse dos professores e profissionais da escola, sem os quais é quase impossível desenvolver um trabalho de modificação dos espaços ociosos, de transformação de alguns hábitos e costumes, de responsabilidade com as questões “domésticas” da escola, de cuidado com a terra e a ponto de refletir na própria forma de organização da escola como um todo. É preciso gerar autonomia, é preciso facilitar para que as pessoas se apropriem das novas práticas.

Nesse caso em especial, da escola Boa Nova, esse início de experiência foi o melhor possível, pois além da abertura da professora de artes, percebemos o interesse dos funcionários da limpeza, da jardinagem, assim como o professor de matemática, a professora de ciências e a diretora da escola. A partir dessa experiência pudemos identificar os olhos que brilharam com a nossa novidade e, assim, a viabilidade de inserir um programa de permacultura no dia-a-dia da escola.

Destaco aqui alguns questionamentos: Como inserir no cotidiano da escola atividades de cuidado e conexão com a terra? Como isso pode representar uma mudança dos hábitos e costumes?

E termino este relato agradecendo à equipe de semeadores que tornaram possível essa experiência: Mariana Kuroyama, Jéssica Celeste Torres, Pedro Machado e Igor Starika.

Gratidão!