Uma das experiências
mais exitosas que vi e vivi em Educação, infelizmente, não durou muito, foi na
cidade de Tiradentes (Minas Gerais) na gestão do Ralph Justino na prefeitura
municipal. Neste tempo (2012 a 2014) eu morava nesta linda cidade, cujo
patrimônio histórico, natural, cultural e humano é riquíssimo. Por dois anos
desenvolvi projetos e eventos em Educação, Arte e Cultura por meio do Atelier Arte
pela Terra que criei na casa onde eu morava com a amiga Janaína Trindade, cujo
apoio foi fundamental para que eu tivesse coragem de executar projetos de
arte-educação ambiental na cidade de forma autônoma, afinal de contas esse é um
tipo de trabalho que não se faz individualmente. Educação de qualidade é um
fenômeno que se faz em equipe, necessariamente de forma democrática, com amor e
amizade. Nós, eu e Janaína Trindade, durante dois anos, com o apoio dos amigos
Allen Maizena Circo, J Trapilho Circo, Ana Elisa Caldana, Valéria Lima, dentre
muitos outros e outras, criamos e realizamos exposições de artes, espetáculos
de teatro e circo nas escolas, nas ruas e no nosso atelier,além de intervenções
urbanas, hortas agroecológicas, oficinas de arte, permacultura, residências
artísticas e etc.
Neste tempo o renomado
educador português José Pacheco, havia mudado para o Brasil, trabalhava na
escola Projeto Âncora e, na companhia da educadora Clauu Correa, fazia uma
turnê palestrando sobre sua participação fundamental na Escola da Ponte, escola
pública em Portugal, cuja história aponta dispositivos pedagógicos democráticos
que rompem com o gerencialismo e o autoritarismo característico da Educação
eurocêntrica implementada historicamente no Brasil. O fazer pedagógico da Escola
da Ponte é pautado pelo desenvolvimento da autonomia, interesses, sonhos e
contextos de cada educando, na construção do conhecimento por meios de
pesquisas e projetos, nos processos coletivos de tomada de decisão, de
construção de regras e objetivos, num projeto político pedagógico (PPP) real,
vivo e democrático, no tempo-espaço educativo que respeitam os ritmos das
pessoas, o significado de cada ação, o convívio em comunidade, dentre outras
características libertadoras e transformadoras.
Em nome do atelier Arte
pela Terra entrei em contato com o José Pacheco e, em parceria com
restaurantes, pousadas e a prefeitura, promovemos uma palestra do José Pacheco para
as professoras e professores da rede municipal e também aberta ao público. Em
decorrência disso, foi firmado entre a prefeitura e o Projeto Âncora uma
parceria para um projeto de Transformação Vivencial na E.m. João Pio por meio
do qual as duas comunidades pedagógicas (João Pio e Projeto Ancora) trocaram
experiências. Eu era voluntária na escola e pude observar que foi um projeto
riquíssimo durante o tempo que durou. Portanto, levanto a necessidade de não
apenas registrar a sua memória, mas refletir sobre as potencialidades e
desafios, os erros e os acertos, de realizar uma avaliação sobre as estratégias
adotadas na parceria, de ouvir e registrar os aprendizados de todos nós
envolvidos nesse processo, sobretudo, das professoras da E.m. João Pio.
Aprendi na minha
pesquisa de mestrado que a democracia é um aprendizado do corpo. É o fazer
corporal democrático que, de fato, nos transforma internamente. A corporeidade
democrática nos fornece a mentalidade coletiva, o espírito comunitário. Isso é
humano e se expressa nos diferentes grupos, seja pela afirmação ou pela negação
da democracia e da liberdade nas ações de determinado corpo social. A
democracia é um aprendizado do corpo individual e do corpo coletivo, social e
comunitário.
A Escola Projeto Âncora,
assim como a Escola da Ponte têm suas histórias de Educação Libertadora, a
Escola Municipal João Pio também teve sua experiência concreta e histórica com
esse tipo de concepção pedagógica. Infelizmente essa história durou pouco,
mesmo com a manifestação tácita a favor do projeto por parte da comunidade e da
luta de muitas pessoas, como eu, Heloisa Edwards, Janaína Simplício, etc. Ao
meu ver, o principal motivo da interrupção do projeto foi a nova prefeitura de Zé
Antônio Do Pacu não ter dado continuidade à parceria, ao mesmo tempo, também
identifico que a distância entre a João E.m. João Pio e o Projeto Âncora foi um
desafio que não permitiu que o projeto resistisse mesmo sem o apoio da
prefeitura.
Ainda que com percalços
essa história pode nos ensinar muito sobre a necessidade de construir parcerias
realmente transformadoras que compreendam a autonomia e a liberdade como um
fenômeno necessariamente coletivo. É um capítulo muito importante da E.m. João
Pio, da história do bairro das Águas Santas da cidade de Tiradentes, Minas
Gerais.
Essa história é viva em
mim, certamente, também em muitas outras pessoas, adultos e crianças.
http://www.simi.org.br/noticia/escola-da-zona-rural-mineira-utiliza-metodologia-inovadora-no-pais.html
https://www.otempo.com.br/cidades/modelo-para-inspirar-o-ensino-1.1228669
https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/ameacado-o-futuro-do-projeto-inovador-da-em-joao-pio-nas-aguas-santas/2142
https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/depois-do-e34sustoe34-e-m-joao-pio-de-tiradentes-pode-voltar-a-ter-periodo-integral/2125
http://www.vanufsj.jor.br/projeto-inovador-pode-ser-encerrado-em-escola-de-tiradentes/
http://www.vanufsj.jor.br/metodologia-de-ensino-inovadora-chega/
http://www.tiradentes.mg.gov.br/?Meio=mostranoticia&INT_NOT=9820
http://patriciamartins.blogspot.com/2016/04/escola-municipal-joao-pio-tiradentes.html
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