Friday, June 21, 2019

Educação e Democracia em Tiradentes: uma pequena história de grande importância



Uma das experiências mais exitosas que vi e vivi em Educação, infelizmente, não durou muito, foi na cidade de Tiradentes (Minas Gerais) na gestão do Ralph Justino na prefeitura municipal. Neste tempo (2012 a 2014) eu morava nesta linda cidade, cujo patrimônio histórico, natural, cultural e humano é riquíssimo. Por dois anos desenvolvi projetos e eventos em Educação, Arte e Cultura por meio do Atelier Arte pela Terra que criei na casa onde eu morava com a amiga Janaína Trindade, cujo apoio foi fundamental para que eu tivesse coragem de executar projetos de arte-educação ambiental na cidade de forma autônoma, afinal de contas esse é um tipo de trabalho que não se faz individualmente. Educação de qualidade é um fenômeno que se faz em equipe, necessariamente de forma democrática, com amor e amizade. Nós, eu e Janaína Trindade, durante dois anos, com o apoio dos amigos Allen Maizena Circo, J Trapilho Circo, Ana Elisa Caldana, Valéria Lima, dentre muitos outros e outras, criamos e realizamos exposições de artes, espetáculos de teatro e circo nas escolas, nas ruas e no nosso atelier,além de intervenções urbanas, hortas agroecológicas, oficinas de arte, permacultura, residências artísticas e etc.

Neste tempo o renomado educador português José Pacheco, havia mudado para o Brasil, trabalhava na escola Projeto Âncora e, na companhia da educadora Clauu Correa, fazia uma turnê palestrando sobre sua participação fundamental na Escola da Ponte, escola pública em Portugal, cuja história aponta dispositivos pedagógicos democráticos que rompem com o gerencialismo e o autoritarismo característico da Educação eurocêntrica implementada historicamente no Brasil. O fazer pedagógico da Escola da Ponte é pautado pelo desenvolvimento da autonomia, interesses, sonhos e contextos de cada educando, na construção do conhecimento por meios de pesquisas e projetos, nos processos coletivos de tomada de decisão, de construção de regras e objetivos, num projeto político pedagógico (PPP) real, vivo e democrático, no tempo-espaço educativo que respeitam os ritmos das pessoas, o significado de cada ação, o convívio em comunidade, dentre outras características libertadoras e transformadoras.

Em nome do atelier Arte pela Terra entrei em contato com o José Pacheco e, em parceria com restaurantes, pousadas e a prefeitura, promovemos uma palestra do José Pacheco para as professoras e professores da rede municipal e também aberta ao público. Em decorrência disso, foi firmado entre a prefeitura e o Projeto Âncora uma parceria para um projeto de Transformação Vivencial na E.m. João Pio por meio do qual as duas comunidades pedagógicas (João Pio e Projeto Ancora) trocaram experiências. Eu era voluntária na escola e pude observar que foi um projeto riquíssimo durante o tempo que durou. Portanto, levanto a necessidade de não apenas registrar a sua memória, mas refletir sobre as potencialidades e desafios, os erros e os acertos, de realizar uma avaliação sobre as estratégias adotadas na parceria, de ouvir e registrar os aprendizados de todos nós envolvidos nesse processo, sobretudo, das professoras da E.m. João Pio.

Aprendi na minha pesquisa de mestrado que a democracia é um aprendizado do corpo. É o fazer corporal democrático que, de fato, nos transforma internamente. A corporeidade democrática nos fornece a mentalidade coletiva, o espírito comunitário. Isso é humano e se expressa nos diferentes grupos, seja pela afirmação ou pela negação da democracia e da liberdade nas ações de determinado corpo social. A democracia é um aprendizado do corpo individual e do corpo coletivo, social e comunitário.

A Escola Projeto Âncora, assim como a Escola da Ponte têm suas histórias de Educação Libertadora, a Escola Municipal João Pio também teve sua experiência concreta e histórica com esse tipo de concepção pedagógica. Infelizmente essa história durou pouco, mesmo com a manifestação tácita a favor do projeto por parte da comunidade e da luta de muitas pessoas, como eu, Heloisa Edwards, Janaína Simplício, etc. Ao meu ver, o principal motivo da interrupção do projeto foi a nova prefeitura de Zé Antônio Do Pacu não ter dado continuidade à parceria, ao mesmo tempo, também identifico que a distância entre a João E.m. João Pio e o Projeto Âncora foi um desafio que não permitiu que o projeto resistisse mesmo sem o apoio da prefeitura.

Ainda que com percalços essa história pode nos ensinar muito sobre a necessidade de construir parcerias realmente transformadoras que compreendam a autonomia e a liberdade como um fenômeno necessariamente coletivo. É um capítulo muito importante da E.m. João Pio, da história do bairro das Águas Santas da cidade de Tiradentes, Minas Gerais.

Essa história é viva em mim, certamente, também em muitas outras pessoas, adultos e crianças.


Algumas notícias da mídia sobre a Escola Municipal João Pio (Tiradentes - MG):

http://www.simi.org.br/noticia/escola-da-zona-rural-mineira-utiliza-metodologia-inovadora-no-pais.html

https://www.otempo.com.br/cidades/modelo-para-inspirar-o-ensino-1.1228669

https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/ameacado-o-futuro-do-projeto-inovador-da-em-joao-pio-nas-aguas-santas/2142

https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/depois-do-e34sustoe34-e-m-joao-pio-de-tiradentes-pode-voltar-a-ter-periodo-integral/2125

http://www.vanufsj.jor.br/projeto-inovador-pode-ser-encerrado-em-escola-de-tiradentes/

http://www.vanufsj.jor.br/metodologia-de-ensino-inovadora-chega/

http://www.tiradentes.mg.gov.br/?Meio=mostranoticia&INT_NOT=9820

http://patriciamartins.blogspot.com/2016/04/escola-municipal-joao-pio-tiradentes.html

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