Ouvi que o mundo estava ruim, eu
não quis aceitar, preciso viver e sorrir mesmo assim, para que não percamos o
sentido da vida, que é justamente nossa ação consciente de dar sentido à vida,
este é o sentido, viver para dar sentido, porque o sentido da vida é uma busca
eterna, na qual cuidamos dela, a vida.
Preciso admitir que, realmente,
às vezes, o mundo está ruim, mas observei que tenho um ímpeto de querer
aprender e conhecer sobre as coisas querendo enquadrá-las no “bom ou mau” ou “bem
e mal”. Procuro me desvencilhar um pouco desse maniqueísmo para ver se consigo
enxergar e sentir as coisas com menos peso. Precisamos escrever a História de
hoje para que os manipuladores do futuro, os neoliberais, não nos roubem os
conceitos, os pensamentos. Precisamos escrever essa história, munidos da
verdadeira História que já foi escrita, articulando com as ações reais do nosso
presente.
Às vezes achamos que não há no
mundo transformação ou “evolução humana”, parte dessa sensação é porque estamos
longe das pessoas que estão, de fato, fazendo algo transformador no mundo, seja
num âmbito amplo, instituições e movimentos sociais ou mesmo em ações de produção
intelectual, no âmbito das pesquisas e dos estudos, na Educação em geral. No
entanto, devemos abandonar essa postura dogmática da luta do bem contra o mal,
são lutas de interesses na complexidade das relações humanas.
Nossa sociedade é formada por uma
luta muito mais complexa do que “bem e mal”, são comprometimentos humanos,
progressistas, comunitários, ecológicos, que constroem a contra-hegemonia hoje
continuando a construção contra-hegemônica histórica, um conjunto de pessoas,
nem sempre conectadas, criando produções no sentido de viabilizar uma nova
cultura transformadora e anticapitalista. Precisamos entender, escrever e
evidenciar os engendramentos das forças sociais produtivas contra-hegemônicas, para
saber como agir para construir a contra-hegemonia e também compreender a
hegemonia do capital, seu bloco histórico, suas perspectivas estruturais,
superestruturais, sensíveis, estratégicas, seus movimentos, ações e conexões.
Devemos pensar em transformação
social e não em “bem e mal”, isso é um padrão de pensamento manipulador que
distorce a percepção da realidade e direciona a compreensão para uma
perspectiva simplista ou passional do fenômeno. Sabemos que a sobrevivência da
maioria de nós seres humanos está atrelada ao modo de produção capitalista,
imperialista, portanto, nossas ações devem ser anticapitalistas, sem dúvidas,
mas respeitando o trabalho das pessoas, as necessidades humanas, sem perder de
vista a complexidade das relações humanas no contexto do capitalismo, os
conflitos de interesses da classe trabalhadora, com as classes proprietárias
dos meios de produção, as grandes corporações, os oligopólios, a indústria da
guerra, do veneno, o mercado global anti-vida.
Devemos praticar a consciência,
sobretudo, a coletiva. Ter consciência do papel e do lugar de cada “coisa” no
sistema capitalista e na sociedade de classes e transformar aquilo que for
possível, aqui e agora. A consciência é o primeiro passo, pois nem sempre vamos
conseguir ser coerentes em nossas ações, nossos hábitos cotidianos, porém, o
exercício da consciência será sempre o ponto de partida para nos situar e
orientar o nosso agir no mundo.
Concentração no momento presente, na respiração,
na consciência individual conectada com a consciência coletiva, percepção
social, consciência de classe (compreensão do contexto social, no capitalismo e
na sociedade de classes), é uma prática que exige conhecimento histórico, é uma
organização econômica construída historicamente, a qual, contudo, não é
estática e nem tão pouco deve ser naturalizada, mas deve ser confrontada
dialeticamente, dialogicamente, na consciência construtora do diálogo coletivo,
dos espaços de construção coletiva da realidade, na real democracia.
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