Veio então a decisão do vestibular e eu,
prematuramente, resolvi fazer Direito, optei por algo que me oferecesse
“retorno financeiro”, mas esse momento veio junto com o vendaval da juventude,
junto com os desejos de viver e experimentar e eu sequer conseguia ficar muito
tempo parada estudando, por isso não consegui passar na universidade pública e
fui cursar uma faculdade privada.
Lá estava eu, mais uma vez, em um
ambiente de classe média, em que eu estava nas frações abaixo da linha média,
pois começaram de novo os mesmos esforços para pagar os estudos, mas dessa vez,
o sacrifício foi vivido por mim. Comecei a trabalhar de dia para estudar a
noite e foi assim por três anos até que me vi na mais profunda tristeza e
insatisfação. Era como se eu tivesse esquecido de mim mesma, não sabia mais
quem eu era, as coisas que gostava e o que me fazia feliz.
Era muito difícil para os meus pais
aceitarem que eu deixasse o curso de Direito. O caminho que encontrei foi
viajar para os Estados Unidos para estudar inglês, consegui isso graças a ajuda
de minha tia Margarida Stone, que mora em Tucson, no Arizona e me acolheu em
sua casa, me sustentando lá durante seis meses. Foi um tempo em que procurei me
conhecer, lembrar quem eu era, dar vazão às coisas que eu gostava, como as
artes, por exemplo.
Quando voltei à Fortaleza decidi
fazer vestibular para Filosofia e passei na Universidade Estadual do Ceará
(UECE), durante todo o curso trabalhei em alguns projetos geridos pela
Prefeitura Municipal: monitora no Programa Agente Jovem, arte-educadora no
projeto Crescer com Arte e participei da equipe de planejamento pedagógico do
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), como arte-educadora de
artes visuais. Foram esses encontros com a educação que me despertaram o
interesse de seguir os estudos nessa área.
Em 2010 participei da I Conferência
Internacional sobre os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, com a
presença do filósofo Edgar Morin, evento que, sem dúvidas, contribuiu como
inspiração à minha formação, pois ampliou as direções dos meus estudos. Em 2011
concluí o curso de graduação em Licenciatura em Filosofia, defendendo na monografia
o tema: “O princípio responsabilidade de
Hans Jonas: as bases éticas para a construção da cultura da sustentabilidade”.
O final da graduação me despertou o
gosto pela pesquisa e pela escrita, então comecei a sonhar e a procurar um
mestrado, aproveitei para conhecer outros ares, buscar uma cidade aonde ainda
houvesse paz, pois Fortaleza, para mim, há muito já havia passado do limite de
urbanização caótica, crescimento desordenado, violência, lixo, barulho,
poluição, etc. Comecei a pesquisar os programas de mestrado em Minas Gerais,
pois eu sabia que nessa região havia universidades em cidades pequenas. Cheguei
então a São João del-Rei e participei da seleção do mestrado em educação no
final do ano de 2011. No entanto, as coisas não foram fáceis e eu não passei
nessa tentativa e nem no ano seguinte, vindo a ser aprovada apenas no final de
2013.
Nesses dois anos que antecederam o
mestrado permaneci na cidade e trabalhei como arte-educadora de artes visuais
em escolas e projetos nos municípios de Lagoa Dourada, Resende Costa, Barroso,
Tiradentes e São João del-Rei. Essas experiências foram de suma importância
para que eu tivesse noção de como andava a educação pública nas escolas da
região e pude ter ideia da dimensão dos desafios. Além disso, mais uma vez,
foram as crianças e as oportunidades que tive de estar com elas, que me
formaram como educadora.
Em
2013 organizei em Tiradentes, Minas Gerais, uma palestra ministrada pelo
professor José Pacheco, educador português que colabora com a EPA e participou
da experiência da Escola da Ponte, em Portugal, uma instituição educacional
pública que se transformou, de uma escola com estigma de que recebia crianças e
jovens problemáticos, em uma escola democrática fundada na liberdade e na
autonomia, com excelentes índices de aprendizado. Fruto de uma experiência que
testemunha a quebra de diversos padrões educacionais opressores e já dura quase
quarenta anos.
Em 1976, a Escola da Ponte defrontava-se com um complexo
conjunto de problemas: o isolamento face à comunidade de contexto, o isolamento
dos professores; a exclusão escolar e social de muitos alunos, a indisciplina
generalizada e agressões a professores, a ausência de um verdadeiro projecto e
de reflexão crítica das práticas...
Nada foi inventado na Escola da Ponte, mas quando se
compreendeu que eram precisas mais interrogações que certezas, foram definidos
como objectivos: concretizar uma efectiva diversificação das aprendizagens
tendo por referência uma política de direitos humanos que garanta as mesmas
oportunidades educacionais e de realização pessoal para todos (PACHECO, 2008,
p. 05).
No mesmo ano, dediquei-me mais aos
estudos e menos aos trabalhos em escolas e projetos, assim pude participar
ativamente do Núcleo de Estudos: Corpo, Cultura, Expressão e Linguagem (NECCEL),
do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São João
del-Rei (UFSJ). O
contato com essas experiências me fez despertar para novos questionamentos, meu
olhar diante do fenômeno da educação atingiu novos prismas. Assim, elaborei um
novo projeto de pesquisa de mestrado, o qual, no final do ano de 2013, foi
aprovado no Programa de Pós-Graduação Processos Socioeducativos e Práticas
Escolares da UFSJ, cujo tema vem a ser o da presente pesquisa: CORPOREIDADE, EDUCAÇÃO ESTÉTICA E
LIBERTADORA: DIÁLOGOS POSSÍVEIS A PARTIR DO ESTUDO DE CASO DA ESCOLA PROJETO
ÂNCORA (COTIA-SP).
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