Eu passava na rua, Rio de Janeiro, bairro da Lapa, escadaria
do Selaron, cada pedra, cada azulejo me reportava para um canto do mundo.
Pensava no barro, no forno, o esmalte, o desenho, as mãos, o desejo, o lugar. A
vontade de fazer, construir, decorar, queimar, esmaltar, pintar, o desejo de
revestir uma escada colorida, com azulejos vindos do mundo todo.
Eu passava, à toa, caminhando e fotografando. De longe ouvi
uma música, um choro. Violão, pandeiro, flauta, cavaquinho e bandolim, receita
de samba, vibrações, pedacinho do céu, noites cariocas, santa morena... o som
vinha do primeiro andar de um prédio, eu queria tanto estar lá.
Se eu realmente tivesse lá em baixo, na rua, andando e
passando, eu certamente desejaria estar lá em cima, no primeiro andar daquele
prédio, com aqueles músicos tocando, acompanhando, dando ritmo com as batidas
no pandeiro, sim, certamente eu desejaria. Como desejou o artista Selaron
revestir aquela escadaria e vê-la toda colorida, como desejaram cada um
daqueles que criaram e construíram aqueles azulejos.
Felizmente, na verdade, eu não estava na rua, estava
exatamente no lugar do meu desejo, ao lado do violão tocando o meu pandeiro.
No comments:
Post a Comment