(texto escrito em 2005)
Se eu pudesse, diria o seguinte a todas as mães: sei que não
tenho nada a ver com a criação do seu filho, mas se um dia, ao sair de uma
apresentação de balet e ele lhe disser “Mãe (ou pai), quero ser bailarino”,
acredite, o seu filho fez a verdadeira escolha. Usei este exemplo, pois
presenciei esta cena ao sair de um teatro e a voz daquele garoto ecoa na minha
cabeça constantemente.
É incrível o papel da arte na vida das pessoas, o quanto as
músicas, a literatura, a dança, o cinema, a fotografia nos envolve
sentimentalmente e nos causam reflexos nos provocando um pensamento maior
quanto a nossa vida nos proporcionando um encontro “cara a cara” com o nosso
próprio eu.
O encontro com o “próprio eu”, muitas vezes, nos faz chorar
e baixar a cabeça diante se si mesmo, pois se trata da prestação de contas mais
dolorosa, a prestação de conta consigo mesmo. Não dá para mentir, para maquiar
a realidade. É quando a sua própria voz lhe diz a verdade utilizando da sua
própria honestidade e do seu senso crítico. A arte pode proporcionar isso.
Nunca se deve abrir mão de ser a pessoa que é. Não se deve
desviar as virtudes e até mesmo os defeitos. Estes últimos devem ser moldados
de acordo com a realidade, de maneira sóbria e não apenas escondido com uma
máscara. É muito fácil agradar aos outros e ser aceito, mostrar-se conveniente
à família e à sociedade, acontece que esta conveniência deve ser conivente à
própria personalidade, aos gostos e anseios. Não se pode pisar ou ignorar a si
mesmo só para parecer adequado.
E eu diria mais à todos aqueles que são pais: se ontem seu
filho quis ser bailarino e hoje ele resolveu que quer ser bombeiro, acredite
novamente que esta foi a decisão correta, isso é sinal de que ele está
crescendo e se conhecendo ainda mais, isso significa que sua personalidade está
fluindo e consequentemente evoluindo. Nunca reprima um sonho de alguém.
Se sua filha prefere tênis e calça jeans a um vestido rodado
com fitas de cetim, sinta-se orgulhoso, isso é sinal de que ela é inteligente e
não abre mão do bem estar por motivos fúteis ou meras aparências. Os pais devem
perder a mania de mostrar os filhos como se fossem uma escultura perfeita, pois
a perfeição numa relação é a felicidade, a simplicidade e a satisfação. Isso é
imprescindível.
Encontro-me, hoje, em um momento da vida em que me vejo sem
orientação, como se fosse uma sonâmbula que saiu da cama e caminhou durante
horas na rua e ao acordar não sabe onde está. Parece que vivo a realização dos
meus sonhos, porém estes sonhos são antigos e não me servem mais. Hoje tenho
outros sonhos.
Será que o ideal é sonhar algo impossível para que sempre
tenhamos uma direção a seguir?
Fiz muito para agradar alguém que um dia fiz sofrer. Hoje
continuou errando, continuou tão ruim quanto no passado, mas agora é pior, pois
esqueci de mim. Não consigo mais lembrar quem eu sou, do que gosto e o que
quero ser. Lembro-me vagamente de certas coisas no passado. Mas tenho a
sensação de que esqueci do principal, como se fosse falar algo de importante e
esquecesse em seguida. Esqueci de ser feliz acima de tudo, esqueci quem eu sou
realmente.
Não busco dinheiro, busco felicidade. Não faço tudo por
dinheiro e nem por status. Não tenho medo de morrer, mas morro de medo de não
viver.
Dizem que os meus desejos são utópicos, isso me causa medo,
mas ao mesmo tempo me motiva. Adoro adrenalina, magia e utopia.
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