Monday, October 29, 2018

O falso bom dia


A falsa bondade é o aroma do dia de hoje, a falsa oração que vem da ilusão, porque aquilo que não luta pela humanização da sociedade é ilusão. Simplesmente não há imparcialidade, é ilusão. Eu não terei raiva da falsidade e cultivarei em mim a crença de que você não sabe o que faz, como olhar para uma criança sem juízo e sem discernimento. Eu não vou gastar energia em julgar e condenar, a mim não cabe. Preciso fazer outras coisas.

Escrevi sim em primeira pessoa porque a tentativa impessoal e imparcial não esconderá a voz de sujeito da história, a minha voz é lugar de fala, o meu corpo é parte da práxis, é síntese da prática e da teoria. Preservo aqui minha voz porque o meu trabalho de educadora junto com meu ato de estudar, pesquisar e, pela investigação rigorosa, construir conhecimento, não será calado. Farei o possível para registrar as Histórias de Luta e o pensamento que afirma que o processo histórico não está determinado, mas que se faz a partir da ação cultural humana, porque cultura é parte da nossa natureza.

Deixarei que a própria vida entregue lições àqueles que alimentam as ilusões, falsidades e egoísmos. Sou muito pequena e por isso não posso mudar o destino e nem tão pouco o momento do despertar de consciência de cada um. Aprenderei junto, porque, afinal, estamos na mesma terra, no mesmo mar, sob o mesmo céu, apesar de nossos corações sentirem tão diferentes.

Sunday, October 14, 2018

Dia das crianças em tempos difíceis

As crianças me mantém viva, elas são fonte de aprendizados sobre a natureza humana e sobre a vontade de viver. De 2007 a 2009 trabalhei num projeto da Prefeitura de Fortaleza no bairro do Caça e Pesca, as crianças me fizeram educadora e eu me descobri arte-educadora- ambiental, me vi na Educação não-formal, um caminho que felizmente eu nunca saí.

Hoje vejo que é preciso lutar pelas crianças,  pela Educação,  pela arte, pela cultura e pelo meio ambiente. Aprendi que a História sem luta cai no esquecimento e eu jamais me esqueço das crianças que me fizeram educadora e também dos outros educadores com quem trabalhei que, com certeza, também moldaram minha formação.

Essa foto do beijo na Terra foi durante a montagem de uma peça de teatro no bairro do Caça e Pesca no projeto da Prefeitura de Fortaleza em parceria com a Petrobrás.

Em tempos de golpe e de fascismo no Brasil eu desejo um feliz dia das crianças com muita luta e alegria, com muita vontade de viver e vencer, com muito amor à natureza, à Amazônia,  aos povos nativos e quilombolas,  às crianças e à democracia em nosso país.

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Thursday, October 11, 2018

Permacultura e Educação: construindo uma educação ambiental infantil prática no Espaço Cria



A agrofloresta urbana do Espaço Cria fica no bairro do Cosme Velho no Rio de Janeiro, ela vem crescendo, se desenvolvendo e permeando o coração das pessoas da comunidade escolar, o Cria é uma escola de Educação Infantil que se inspira em pedagogias que primam pela sensibilidade, o contato com a Natureza e a democracia, como a Educação Viva, a Comunicação Não Violenta (CNV), as comunidades de aprendizagem (Escola da Ponte e Escola Projeto Âncora), etc.


Cada escola, cada lugar, cada comunidade tem seu jeito e o Cria está começando a desenvolver sua própria metodologia de comunidade de aprendizagem, criação e transformação. O processo começou com a implantação de canteiros produtivos de agricultura orgânica concomitantemente com as oficinas práticas com as crianças a partir de 3 e até 6 anos de idade.



O desejo de crescer com a permacultura no Cria encontrou o desafio do tempo, de conseguir encontrar com as pessoas. Mas em contrapartida, aceitei observar e ler a espontaneidade do fenômeno que vem florescendo a partir  vem do diálogo criativo, construtivo e coletivo, o que permite o encontro de pontos em comum no trabalho da permacultura e da agrofloresta com as demais áreas da escola: a cozinha, a direção,  a coordenação, o berçário (que no Espaço Cria é o ciclo I), a portaria, a equipe de limpeza, jardinagem, serviços gerais, os educadores, a equipe de audiovisual, as mães,  os pais, as famílias,  a equipe do administrativo e do financeiro, etc. e, é claro, as CRIANÇAS de todos os ciclos.




Mas como pensar em plantar e produzir alimentos orgânicos na cidade diante da sobrecarga de tarefas que todos nós acumulamos? Já trabalhamos tanto, como vamos pensar em plantar? Este é um desafio real, porém,  não conseguimos enxergar além dele porque vemos o problema numa perspectiva muito individual.

Plantar na cidade quer dizer ações em comunidades, em escolas e, através dos saberes da permacultura e da agrofloresta é possivel planejar e implementar sistemas sustentáveis aproveitando o que há no local, sem exaurir a terra e nem o trabalho humano. O plantio de alimentos é cultura, arte e diversão, portanto, é impreterível que estas práticas estejam presentes na Educação, porém, as mesmas não devem ser fragmentadas, a agricultura urbana orgânica deve estar sempre integrada às relações humana, à arte e à cultura.

O Espaço Cria permite que o processo aconteça espontaneamente e naturalmente, a partir de nossos interesses, de nosso trabalho, de nossa arte, da ação com significado coletivo construído na experiência, etc. O trabalho com a permacultura nesta escola está abrindo uma fenda que permite visualizar uma comunidade que constrói democraticamente e criativamente seu projeto de sustentabilidade, envolvendo a produção de alimentos orgânicos na cidade. É um sonho nosso que já virou ação. 


O contato com a natureza, a produção de alimentos orgânicos, a transformação dos espaços, as artes e as relações em geral, tanto entre as pessoas como em relação ao ambiente e recursos, são ferramentas de criação da realidade, da cultura e da política.

Quando produzimos alimentos nas escolas questionamos o ilusório antagonismo entre a cidade e o campo e abrimos uma trilha que permite visualizar que é possível sim plantar na cidade, aproveitar os recursos, cuidar da terra permitindo a nutrição do solo a partir da compostagem orgânica e evitando o esgotamento dos nutrientes da terra e da sua microfauna.



Todo dia aprendemos um pouquinho com a Natureza e seguimos na luta para encontrar as chaves da transformação, sem dúvidas uma delas é o princípio que afirma: "Trabalhar com a terra e não contra ela". Isso inclui o protagonismo político  dos sujeitos e a consciência da importância do amor e da liberdade coletiva como fundamentos essenciais da sobrevivência humana. ♡




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Saturday, May 12, 2018

Mães: fontes inesgotáveis?



Não sou mãe, só sou filha, virei mulher e me atirei, me soltei de minha casa para aprender mais sobre o mundo e espalhar por ele as sementes que minha família plantou em mim. Sete anos que passaram e, de certa forma, eu continuo viajando, mudando de cidade ou de casa dentro da mesma cidade, fiz amigos, dividi casa com diversas pessoas, fiquei, namorei, separei... No meio desses caminhos e descaminhos percebi uma sensação, um sentimento que tem a ver com ser mãe, ou melhor, diz respeito à forma com que vemos as nossas mães.

Percebo que algumas pessoas veem a mãe como uma fonte inesgotável de amor, atenção, serviço, prontidão, dedicação, dinheiro, comida, lençóis limpos e cheirosos, etc. A questão principal que quero tratar aqui é essa ideia de fonte inesgotável. Partir dessa premissa é um erro grave, pois é bem possível que, pensando assim, estejamos, na verdade, explorando as nossas mães.

Durante toda a minha caminhada venho observando e pensando sobre isso, vejo o comportamento de diversas pessoas diante de suas mães e também reflito muito sobre minhas atitudes perante a minha mãe. Eu lembro do tempo em que eu não a compreendia, meu corpo jovem cheio de energia não podia perceber que o corpo exausto de minha mãe tinha limites e que mesmo assim, sem tanta disponibilidade para um carinho, descarregando suas tensões diante de mim, ela era a fonte mais perfumada e macia de amor.

São infinitas as minhas recordações de minha mãe trabalhando: ela costurou tantas e tantas roupas que vestiram a mim, minha irmã, minha mãe, minhas tias e suas tantas clientes que passavam por lá. Era estranho sentir minha mãe medindo as roupas em mim, espetando alfinetes, puxando e repuxando o tecido, dizendo pra eu ficar direito. Eu queria beijos e abraços, que ela fosse sempre fonte perfumada e macia de amor e delícias, mas minha mãe era muito mais que isso: ela era uma mulher corajosa, disposta, trabalhadora, caprichosa e não porque quisesse ou soubesse, mas porque era necessário arregaçar as mangas a cada dia para aliviar a pressão das contas a vencer, os juros do empréstimo do banco, as mensalidades escolares, o cartão de crédito que acumula parcelas das compras que foram necessárias, etc.

Minha mãe fez tudo isso para nada me faltar, para que eu tivesse condições de estudar para que, um dia, eu não tivesse que ser o que ela foi e o que ela não quer para mim. Ela nunca quis me ensinar a costurar, apesar de eu ter pedido mil vezes, de na nossa casa ter máquinas, linhas, tecidos, etc. Modéstia parte, eu costuro muito bem à mão. Minha mãe fez tudo isso todos os dias, durante anos, para que eu pudesse escolher o que eu queria ser. Para que as determinações em minha volta não fossem aprisionadoras e sim libertadoras.

Ela cansou de costurar, fez vários cursos e se tornou cabeleireira, combina muito mais com ela e vejo que ela é muito mais feliz nessa profissão, mas ainda vejo a mesma batalha pela sobrevivência, a mesma insistência de complementar a renda da família e fazer toda a diferença em nossas vidas. Vejo o corpo dela expressar o esforço repetitivo do secador de cabelo, o puxar da escova, as horas e horas em pé para lavar, cortar, hidratar, escovar os cabelos das clientes.

Eu gostaria de ver minha mãe trabalhar um pouco menos, se cuidar mais e ter paz, tranquilidade em relação às contas para pagar. É um sonho nosso. Eu sei. Sei também que ela é a mãe que eu tinha que ter, para eu ser quem eu sou, numa equação da vida que, quando percebi, ganhei leveza, amor e enorme gratidão. Aceitar e acolher a própria mãe é aceitar e acolher a si mesmo. Elas são nosso ponto de partida e portanto, também, nossa chegada, pois a vida é cíclica e o movimento é espiral.
Na vida as oportunidades vão e vêm, às vezes, são tão sutis que não percebemos. Os mimos que podemos fazer por nossas mães estão no cotidiano, principalmente quando nossos gestos podem aliviar a barra que elas carregam, seja de eu tipo for, financeira, emocional, física, cultural, enfim... Seja qual for a pressão, o vazio ou o excesso que lhe tire a paz ou a alegria de viver.

Nenhuma mãe é fonte inesgotável, essa premissa tem que desaparecer dos nossos inconscientes, para que a gente possa reconhecer nossas mães, do jeito que elas são, com seus defeitos, históricos, aceitar seus limites. Nenhuma mulher é fonte inesgotável, pois, apesar de eu não ser mãe, muitas vezes senti pessoas que se aproximaram de mim e me julgaram fortes, passaram da conta daquilo que eu podia dar ou aguentar, pois também, algumas pessoas, por me verem aparentemente forte, me machucam. Aos poucos também venho aprendendo sobre os meus limites.

Acho, na verdade, que minha mãe deveria ter sido educadora, pois as crianças se derretem por ela e ela pelas crianças. Ela se chama Silvia Helena e carrega consigo a beleza e a grandeza do seu nome, ela é resplandecente, tem a beleza da natureza e a bravura de uma tocha, um raio de Sol.


Tuesday, May 01, 2018

Coração Querido




No coração tem mato
Dentro do mato
Mataram o amor
O amor não morreu
O corpo se foi
Ausência chegou,
Eterna, sublimou
O futuro em nós.

Demorei pra chorar,
Estava tão dentro,
Sob as camadas
Dos anos que passam,
Graças a Deus consegui
As lágrimas derramar,
Fazer mar da dor
Que chove no olhar.

O amor no chão,
Aceitou, entregou,
Pois conhece a terra,
Como cresce o mato,
Como aduba o solo.
Foi no instante,
Dentro do canto,
Nos braços dos anjos
Sorriu.

Mato que vive
Também mata,
O silêncio cala,
A vida é clara.
Das feridas
Nasceram asas,
Depois da dor
O alívio.

"Não existe nada ruim no presente, mesmo se algo ruim acontecer agora! Já passou, ficou no passado, serviu de lição e o futuro só pode ser melhor" (Fernando Sanchez).

Querido Fernando, entrego esse poema como forma de gratidão à sua existência aqui na Terra. Há seis anos pratico a mesma série de yoga que aprendi com você e desde sempre e para sempre me lembrarei de você com muito amor. Meus sentimentos à família e aos amigos do Mato Dentro. A morte torna eternos os ensinamentos, a energia, o amor; nos mergulha no universo, no infinito que é “Deus”. Nosso amigo Fernando sempre irá nos inspirar!




Friday, April 13, 2018

Tinta natural, folhas secas, papeis e mãos: açafrão



Mãos que pegam o mundo, apontam dedo pro céu, um pássaro voou. Em cima da mesa uma bacia com tinta natural. Dia quente não precisa de roupa e poupa o trabalho de quem vai lavar as roupas e os bebês. Laranja do barro, vermelho do urucum, amarelo do açafrão*, marrom do café, preto do carvão, vermelho da beterraba. Cor também é tempero, uma de cada vez, para um dia misturar, cor de terra, de pele, como nós, cor é coração.


A mão é extensão do coração, ouvi alguém dizer. Eu diria mais: as mãos são extensões da nossa essência, são nossos tentáculos dos detalhes, texturas, gestos, desenhos... são movimentos que falam, nos esculpem por dentro e por fora somos as mãos de Deus e da Historia.


Espalhei ali umas folhas secas, uma papa de água e açafrão, papel e nada mais além das mãos, nossas ferramentas de criar ferramentas. 


*aprendi que algumas crianças podem ter alergia a corantes, mesmo os naturais. Importante perguntar antes de fazer essa atividade com bebês, crianças e até adultos também. ♡

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Thursday, March 08, 2018

8 de março de 2018


Eu não poderia aqui listar as mulheres que admiro, certamente esqueceria alguém, pois são muitas as mulheres que me inspiram. Elas estão vivas e mortas, são infinitas e existem no passado, no presente e no futuro. Algumas delas eu nem conheci, nem sei que existem, são carnes e espíritos que emanam vida, íons que despertam em mim a vontade de viver ainda que o mundo pareça esmorecer e, sobretudo, a capacidade de ousar agir e pensar para transformar.
Comemoro hoje a cumplicidade entre os corações das mulheres, esse encontro que acontece em silêncio, no respirar que enxerga em si o amor, o respeito e a aceitação. Comemoro também poder compreender que cada um tem seu tempo e que "fazer a sua parte" é escrever as novas páginas da História e gritar isso o mais alto possível! Comemoro a capacidade de discernir e de não ser ingênua na hora de agir, habilidade que só se desenvolve com humildade e humanidade.
Agradeço àquelas que diariamente me mostram que o buraco é mais embaixo e que existem vários feminismos e que alguns deles são de uma perspectiva que identifica o feminismo como uma luta, antes de tudo, anti-capitalista. O feminismo é liberdade para ser o que se é, é consciência de classe, é papel político, é ação para transformação. Muitos dos problemas enfrentados são também devido à luta de classes e a exploração das grandes massas, a objetificação, a alienação. Há uma série de porquês, uma infinita quantidade de detalhes complexos essenciais e extremamente significativos e, de alguma forma, tudo está conectado e implicado nesse contexto maior do coletivo, da sociedade e da forma de produção (o background do capitalismo).

Thursday, January 25, 2018

Mesmas palavras




Eu já tinha visto estas palavras
Com outro corte, outra roupagem,
O mesmo discurso
Com outra maquiagem.

De início era jovem,
Parecia puro, inovador,
Uma ideia que acaba de nascer,
Não parecia que havia dor,
Como mundo prestes a morrer.

O capitalismo pós-moderno,
Batizado de neoliberalismo,
Veio serelepe com cara de amigo,
Usando os brincos do humanitarismo,
Às vezes parece tão novo,
Às vezes é só um sectarismo,
Mas traz sempre o mesmo aprendizado:
De olhar para o próprio umbigo.

O juiz julgou o povo,
Condenou ao retrocesso de novo,
Fazem hoje como de antes,
Para conservar sua classe dominante,
Escraviza o povo e apaga a libertação,
História escrita com sangue,
Com o mais puro vermelho coração.

Eu vejo por aí o discurso
Todo elegante e bonito
As correntes da dominação
O fosso do dinheiro e da acumulação
Mas o seu pé é firmado na maré
A correnteza que suga o sangue
Leva o povo para o ralo da ralé.

As commodities, o velho ouro e o Pau Brasil,
A sociedade escravocrata, o poder mercantil,
A guerra, a competição mercante;
Páginas históricas estruturantes,
Encoberta por vitrines e estantes,
Como interessante, genial,
Palavras novas para contar
Mais um triunfo do capital.
.
Querem acabar com a democracia,
Querem roubar nosso coração,
Apagar a História, espalhar melancolia.
O medo, a injustiça e a mentira não passarão.