Tuesday, June 30, 2015

À Terra

Carinho à Terra, 2015.
Nanquim sobre papel.


Tudo surgiu de um abraço. Fechei os olhos e senti que estava abrigada pelo meu próprio corpo, que estava abrigado por um outro corpo, que estávamos os dois envolvidos pelo sentimento do amor. Senti, porém, que o meu corpo não era meu.

Então veio a compreensão de que somos espíritos vivendo a materialidade e que o carinho que se faz ao corpo, se faz, na verdade, à terra.

Não quero aqui cair na dualidade mente-corpo ou matéria-espírito, pois a vida, como conhecemos, não permite separar essas dimensões. Apenas as separamos a título de buscar compreendê-las, no entanto, só podemos compreender a vida se pensarmos a fusão da matéria com aquilo que a anima.

Podemos pensar, mas muito mais, podemos sentir. Cada ser vive a vida de um jeito diferente e uma mesma vida é constituída de experiências diferentes. São infinitas dimensões, todas distintas e únicas. Cada ser é único e suas experiências são únicas.

Esse abraço foi único e, para mim, será inesquecível. Eu nunca tinha sentido um abraço dessa forma e, provavelmente, essa experiência mudou o modo que eu percebo o ato de abraçar.

Todo ser vivo um dia morre e aqui na terra deixa o seu corpo. Isso é tudo o que podemos perceber nesse mundo. O que acontece ao espírito ou se há outros mundos aqui não podemos saber. Então, se aqui isso é tudo o que sabemos, deixemos à terra corpos acarinhados, abraçados, inscritos e impressos de amor e carícias.

Monday, June 08, 2015

Coração Floresta


O teu coração é floresta
É mata fechada ribeira
Rastejo e me perco no mato
Mergulho no rio em viagem
Olho no espelho na margem
E vejo a tua imagem

É mata sem caminho
É trilha sem chegada
É noite enluarada
Estrelas ao luar

O teu coração é um pássaro
Que é livre dentro de ti
De canto grave macio
Habita o topo da árvore
É belo feito miragem
Rege a orquestra selvagem

Raízes se abraçam
Firmam o chão
Buscam o alimento
Do teu coração

A vida que bate em teu peito
É força que pulsa em amor
É ninho de passarinho
É onça no meu caminho
Do lobo é o carinho

A mata que me abrigou.